domingo, 15 de março de 2015

Tá difícil.

É como se as pessoas não tivessem memória.

É como se as pessoas não lessem livros de história

Está ficando cada dia mais difícil assumir uma posição política no país em que vivemos. Primeiro, porque os ideais dos nossos representantes há muito, estão desprovidos de qualquer ideologia que seja. Segundo, porque estamos vivendo uma espécie de roube coletivo de memória que impede qualquer análise racional sobre o assunto . Terceiro, porque com a gigantesca força das redes sociais, os fatos são distorcidos e manipulados de uma maneira tão nefasta que se torna difícil saber se o que lemos é ou não provido do mínimo de veracidade ou ética jornalística.

Não é de hoje que se critica a falta de ideologia nos partidos brasileiros. Isso porque nos acostumamos a votar em pessoas, não em ideias - é a velha mania do brasileiro de pessoalizar as relações para tirar delas qualquer proveito que seja.  Por isso, é tão difícil para nós desassociar os partidos dos seus filiados. É como se, para o bem e para o mal, não existisse joio e trigo; não existissem bons e maus políticos e como se a parte representasse o todo. Sejamos sinceros: os políticos também ajudam a fomentar essa noção de homogeneidade entre eles, em virtude de suas alianças incoerentes e estapafúrdias, que utilizam como lema a noção maquiavélica de que os fins justificam os meios.

Outro aspecto que se faz evidente é a incapacidade dos brasileiros de lembrar o nosso passado muito recente de opressão, violação de direitos humanos fundamentais, perseguição política e ideológica e violência gratuita que marcaram as décadas de 60 e 70 durante a ditadura. Talvez esteja aí uma das raízes da nossa resistência em assumir uma ideologia. Temos medo de assumir o que pensamos, pois no passado isso significava violência e morte. De certo modo, essa violência ainda subsiste, porém ela se expressa de outro modo.

As redes sociais se tornaram, ao mesmo tempo, um espaço de liberdade (nelas podemos expressar o que pensamos) e de repressão. Isso porque passamos pelo crivo da ditadura dos comentários revestidos de ódio e julgamentos, pois, ainda nas redes, não conseguimos dissociar um posicionamento político de uma característica ética/moral de quem o expressa. Claro que existe uma linha tênue entre liberdade de expressão e defesa a crimes como apoio a ditadura, nazismo, assassinatos, dentre outros. Sim, existem limites. E não é tão difícil saber quando o atingimos – só quando não queremos admitir.

É nesse contexto que surgem as distorções de discurso e a manipulação de ideais – terreno fértil para a formação de uma grande massa de manobra incapaz de refletir sobre o que defende e para quem levanta suas bandeiras.

Devemos ficar atentos para não nos tornarmos fantoches nas mãos dos ventríloquos que lutam para comandar nossa compressão do mundo. É difícil, mas não é impossível. Faz parte de um exercício diário de auto questionamento e de crítica ao que ouvimos, lemos e debatemos nos nossos espaços.

É necessário, também, um regaste constante da nossa história, pois ela nos permite lembrar quem somos, o que conquistamos e o que queremos conquistar. Vamos usar a rede, mas sem deixar que ela nos fisgue e faça de nós uma presa fácil nas mãos de quem acha que possui  o barco.


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