quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Clichê nosso de cada dia

Tenho inveja de gente profunda. De gente que foge ao padrão. Que inova. Que pensa diferente. Que escreve diferente. Eu não sou assim. Eu sou clichê. Não ouso ousar. Nem saberia. 

Sou do tipo de pessoa que só quer que o dia termine bem. Que acredita que tudo dará certo no final. Que não responde aos insultos por achar que tudo que vai, volta. Daqueles que se orgulham: "o mal se paga com o bem". Sou o amigo que deseja "muitas felicidades e tudo de bom" nos aniversários, que gosta do Natal e adora final de ano. Sou dos que postam fotos do pôr do sol nas redes sociais, sempre acompanhadas de frases fáceis e motivacionais. Quando estou cansado, me lembro que todo esforço será recompensado e que não há recompensa sem esforço. Em termos simples, "no pain no gain". Sou daqueles que respondem "eclético", quando indagado sobre preferência musical. Dos que perguntam "tem novidades?", quando reencontra um conhecido. 

Eu já sofri escutando "Vento no Litoral". 

Não sei pensar diferente disso. Sou um sonhador de sonhos clichês. Eu só quero ser feliz. Sou dos que acreditam que é necessário aproveitar cada segundo da vida. Vivo dizendo "Carpe Diem" para mim mesmo. 

Sou dos que querem amar como se não houvesse amanhã. 
Eu costumo confortar as pessoas com o discurso de que tudo que acontece de ruim tem um propósito. Eu digo que Deus sabe o que faz. Falo que o choro é só uma fase e que a alegria vem em seguida. 

Definitivamente, sou a pessoa dos clichês. Dos que não se distanciam do senso comum. Até meu biotipo é clichê. Não sou magro nem gordo, sou normal. Nem alto, nem baixo, mediano. Esse texto é clichê, daqueles que são repletos de pontos finais espalhados propositadamente, na intenção de fazer quebras repetidas na leitura. Aqueles textos cheios de frases seguidas ilustrando características do autor. Clarice Lispector e Caio Fernando Abreu devem ter inúmeros assim.

Por isso tenho inveja de gente profunda. Dos que não acreditam na felicidade, mas são felizes mesmo assim. Que não acreditam em Deus e são cheios de fé no mundo. Dos que aconselham de modo diferente. Que escrevem diferente. Sou fã dos que inventam, dos que quebram paradigmas. 
Mas eu não, eu sou o homem mediano. Sou mais do mesmo.

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